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terça-feira, 20 de março de 2018

Filme : Extraordinário


Um dos filmes que mais me chamaram recentemente foi Extraordinário, confesso que fiquei receoso para vê-lo, devido a não gostar muito de adaptações de grandes livros. 

Extraordinário’ é baseado no romance homônimo de 2012 escrito por R.J. Palacio, e retrata a vida do garotinho Auggie Pullman – que nasceu com uma séria síndrome genética que o deixou com deformidades faciais. Mesmo após por diversas cirurgias e complicações médicas ao longo dos seus poucos anos de vida, seu rosto continua deformado. 

Solitário, Auggie constantemente se vê como um astronauta: fã de ciência, o menino vê no espelho daqueles que vão para o espaço um reflexo de sua paz; lá, ninguém pode incomodá-lo. Não à toa, é fã de Star Wars e Halloween. O primeiro por se passar no espaço e ter seres das mais diversas fisionomias - ele seria normal naquele universo. O segundo por ser uma festa onde todos se fantasiam e ele deixa de ser uma aberração e pode viver como um garoto qualquer, nem que seja por um dia. 


A real é que o bullying encontrado por Auggie é apenas uma hipérbole daquilo que acontece na sociedade como um todo: a necessidade de aceitação. Seja ele, sua irmã ou os amigos problemáticos também destacados pelo roteiro, o filme deixa Auggie como o centro de um universo muito maior e comum. Ele é o exagero extrapolado para enxergarmos aquilo que geralmente passa batido por nós. Então, quando Via, irmã de Auggie, e Miranda, sua melhor amiga, começam a serem aprofundadas, vemos que Auggie não é tão diferente assim. 

O que mais difere essa jornada das demais de superação é a devida atenção dada aos seus coadjuvantes, que assumem papéis primordiais na trajetória do garoto. Tudo é bem salientado pelo bom roteiro de Jack Thorne e Steve Conrad, o qual maneja perfeitamente a narrativa para que os diferentes arcos pessoais dos diferentes coadjuvantes da obra não a tornem episódica. Aliado a isso, está a montagem de Mark Livolsi, a qual conjuga todas as partes da história de forma fluida. A obra, enfim, não traz nenhuma trama paralela desnecessária à mensagem central; tudo tem sua função diante das lições que aprenderemos no decorrer da projeção. Não se pode dizer, contudo, que todos os personagens possuem a mesma relevância. Em comparação a Jack Will, por exemplo, Summer (Millie Davis) ganha uma abrupta importância narrativa, sem receber as mesmas camadas que o amigo de Auggie recebe. O mesmo também pode se dizer do antagonista Julian Albans (Bryce Gheisar), o qual, devido ao caráter do que lhe acontece, necessitava de um background que justificasse suas atitudes, suas duas caras; algo mais visível do que o que fora pontuado brevemente na sua derradeira cena. 

O canadense Jacob Tremblay já provou ser o melhor ator de sua geração ao roubar a cena em ‘O Quarto de Jack’ e faz novamente ao dar vida a Auggie. Apesar de estar sob uma maquiagem pesada para deformar seu rosto, o ator consegue encantar com uma atuação expressiva e digna de uma indicação ao Oscar. É ele quem rouba todas as cenas e consegue emocionar o espectador com poucas palavras. 

Julia Roberts está sensacional na pele da mãe do garoto, uma mulher que sabe o que seu filho passará ao longo da vida por ser diferente e sofre com ele. Os diálogos afiados entre Roberts e Trembley são deliciosos, e a dupla demonstra uma química absurda em tela. 

Izabela Vidovic rouba a cena como a jovem Via, a irmã do protagonista que luta para ser notada pela família enquanto todos estão preocupados com seu irmão. 

Já Owen Wilson entrega uma atuação sólida, mas não memorável. Ah, e não esqueçam de reparar na rápida aparição de Sonia Braga, que em apenas uma cena consegue demonstrar todo o poder de sua atuação. 

O diretor Stephen Chbosky, que já havia nos entregado o sensacional ‘As Vantagens de Ser Invisível’, sabe mesclar o humor e o drama de maneira eficiente e extraordinária. Sua direção nos leva para uma jornada pelos sentimentos dos personagens, enquanto consegue tirar sensações dos espectadores. 

Então, ainda que toque em assuntos relevantes, mas sem aprofundá-los, que tenha uma abordagem mais leve e músicas direcionando aquilo que devemos sentir, Extraordinário acaba sendo um filme muito bom por levantar tais questões de maneiras simples e compreensíveis até para os mais jovens - o que torna o filme obrigatório para famílias debaterem os temas e educarem os seus filhos. É uma reflexão necessária em uma época tão cruel, de tantos advogados e juízes de redes sociais, quando sempre há uma pessoa, com sentimentos a serem destruídos, por trás de todas aquelas brincadeiras maldosas. 

Extraordinário (Wonder) — EUA, 2017 
Direção: Stephen Chbosky 
Roteiro: Jack Thorne, Steve Conrad, Stephen Chbosky (baseado em romance de R.J. Palacio) 
Elenco: Jacob Tremblay, Julia Roberts, Owen Wilson, Izabela Vidovic, Danielle Rose Russel, Noah Jupe, Millie Davis, Bryce Gheisar, Mandy Patinkin, Daveed Diggs, Nadji Jeter, Ali Liebert, Elle McKinnon, James Hughes, Ty Consiglio, Crystal Lowe, Kyle Harrison Breitkopf, Sonia Braga
Duração: 113 min.

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